O cafezinho da confusão.
Atualizado: 11 de mai.
Ao assumir minha primeira função de chefia em uma unidade do interior do Nordeste, procurei criar um clima amistoso, de cumplicidade e simpatia, às vezes sendo simpático além do que sou. Foi assim que, no meu primeiro dia, criei um clima de constrangimento que quase arruinou minha missão de conquistar a confiança e simpatia da nova equipe.
Após as apresentações de praxe, sentei em minha mesa sem saber muito o que fazer, apenas aguardando as demandas. A unidade ainda não estava aberta para atendimento e filas já se formavam na porta. Foi então que, de maneira extremamente simpática, receosa e quase trêmula, uma senhora se aproximou oferecendo-me um cafezinho.
Geralmente, são os colegas prestadores de serviços e estagiários que mais ficam apreensivos com essas mudanças. De pronto e com um sorriso, aceitei a oferta. Nesse momento, percebi que nossa colega deu uma relaxada e emendou a pergunta “Com adoçante ou açúcar?”. Respondi de forma gentil e esclarecedora: “Duas gotas e meia, atenção, duas gotas e meia.”
Passados alguns minutos, já havia esquecido o café, a unidade já tinha aberto para atendimento e, além da confusão dos clientes, comecei a notar um movimento anormal de vai e vem em direção à copa, com rostos constrangidos. Curioso e responsável, procurei saber o que ocorria me dirigindo ao local. Ao chegar, encontrei nossa copeira aos prantos, amparada por colegas, lamentando a perda do emprego por não saber colocar duas gotinhas e meia no café.
Depois do “deixa disso”, foi brincadeira. Fiquei um pouco decepcionado com minha inocente brincadeira. E então, chega o cafezinho pelas mãos da nossa colega estagiária, que, de forma um pouco irônica, coloca o café na mesa e fala “Olha aí seu cafezinho com duas gotinhas e meia de adoçante.”
Fora esse terrível incidente, o expediente correu normalmente, com um pouquinho de apreensão da nova equipe, mas, com o tempo, as animosidades foram se dissipando e a harmonia prevalecendo. Dias se passaram, chegou o fim do ano, tempo de confraternização. Nos reunimos em um restaurante para um amigo secreto.
Procurei, de uma forma trapaceira, tirar a nossa copeira como minha amiga secreta, pois pretendia compensar o ocorrido com um auspicioso presente. Na minha hora de entregar o presente, relembrei do meu pedido impossível de ser atendido. Foi aí que a estagiária interveio na minha apresentação: “Impossível não, você tomou o seu cafezinho com duas gotinhas e meia sim”. Surpreso, perguntei: “Verdade? Como assim?” Ela respondeu: "Claro que é verdade. Foi simples, meu bem. Coloquei duas no café e a terceira na borda. Metade caiu dentro e a outra metade fora”. Fiquei chocado.
Depois desse episódio, percebi que a minha tentativa exagerada de ser simpático e criar um clima de cumplicidade acabou gerando uma confusão desnecessária. Aprendi que é importante manter um equilíbrio entre ser simpático e profissional, e que não devemos ultrapassar limites que possam comprometer a nossa imagem e a nossa autoridade como líderes.
Aprendi que, como líder, é importante manter um equilíbrio entre ser simpático e profissional. Não devemos ultrapassar limites que possam comprometer a nossa imagem e a nossa autoridade como líderes. A partir desse episódio, passei a adotar uma postura mais equilibrada e a me comunicar de forma clara e objetiva com a equipe, mostrando que estou disposto a ouvi-los, mas também a liderá-los de forma eficiente. Com isso, consegui conquistar a confiança e a simpatia da minha equipe, e o trabalho fluiu de forma mais tranquila e produtiva.