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Lavar carro ou costurar.

Atualizado: 11 de mai.

Vivi em uma época em que o politicamente correto ainda era um assunto controverso. Nomes pejorativos como "veado", "bicha", "boneca" e "pederasta" eram comuns para se referir a homossexuais, que sofriam reprimendas sem que ninguém falasse ou soubesse o que era homofobia. Garotas de programa ou acompanhantes eram rotuladas como "puta", "rameira", "piranha", "mulher da vida" ou "rapariga", enquanto mulheres provocantes eram assediadas nas ruas com frases de baixo calão como "ó gostosa", "aí lá em casa", "se meu fusca falasse" e outras. A misoginia era tolerada e o bullying não era um tema discutido. Essa era a realidade em que vivíamos.

Naquela época, as opções de profissões e hobbies eram limitadas pelo estereótipo de gênero: os homens deveriam gostar de carros e esportes, enquanto as mulheres deveriam gostar de costurar e cuidar da casa. Não havia questionamento sobre a diversidade de interesses e habilidades que cada indivíduo pode ter, e o preconceito era uma prática social comum. Felizmente, com o tempo e a luta de movimentos sociais, essas práticas discriminatórias foram sendo questionadas e combatidas, trazendo mais liberdade e respeito para as pessoas.

O garoto geralmente completando os quatorze anos e com a não toda cabeluda, sinal de punheteiro que não podia ver uma calcinha, já estava precisando dar uns tapas na boneca e geralmente cabia ao pai, machista e misógino, a tarefa de arrumar uma safadeza para o filho, geralmente com as putas da cidade no cabaré da luz vermelha, lá na beira da BR, onde os caminhoneiros faziam as suas paradas, acertado o programa e deixado o garoto lá própria sorte, no dia seguinte o pai ansioso e de maneira nada discreto, procurava a rameira, para saber da performance do filho, se o menino deu mesmo no coro.

A resposta sendo positiva e se macho mesmo igual ao pai nos próximos dias o mesmo já estava dirigindo o caro do pai e daí por diante, as tardes de sábado passa lavando o carango do velho para dar as saidinhas de sábado à noite, pegar umas garotas e transformar, orgulhosamente, o caro do pai em um motel.

Caso a performance não tenha sido como o esperado e meio que duvidosa, com o garoto demonstrando insegurança, medo e até mesmo repulsa, então a mãe era chamada à responsabilidade, por estar dando muito mimo ao garoto e permitindo o mesmo de brincar com garotas, geralmente costurando vestidinhos ou fazendo penteados, a única brincadeira permitida pelo pai, macho, era a de paciente e medico, do contrário, o garoto ficava afeminado.

As intervenções começavam a funcionar de forma intensa e disciplinada, começando por vigiar e escolher as amizades, nada de garotos com fama, também se apelava para o jogo de sedução contratando rameiras disfarçadas de doméstica, como boa de cama e mesa sendo as qualidades principais exigidas, andar mais com o pai, no trabalho, no jogo de futebol ou em caso mais extremo manda-los para um internato masculino em outra cidade, escondendo assim as suas preferências pessoais.

Em minha rua a maior parte foi lavar carro, uns a contra gosto, e alguns outros que não aceitaram lavar carros, venceram os obstáculos, foram aceitos e fizeram acontecer. Sim os costumes mudam de acordo com a época, alguns tem a sorte de viver tendências singulares, muitos se adaptam facilmente e outros se tornam saudosistas, o tempo vai passando e a sociedade vai evoluindo, o respeito e a aceitação se tornaram regras, a discursão em torno das diferenças, de quem quer lavar carro ou costurar não representa mais uma assimetria no caráter das pessoas, sendo hoje a individualização um padrão de nobiliarquia, escolhas não são mais desestimuladas, salvo uma minoria que ainda tenta retroceder a um passado trans fóbico e misógino, sendo prontamente desestimulados por formadores de opinião, a democratização da informação tornou os indivíduos indiferentes a superficialidade de costumes mutáveis e impessoais.

A pressão do pai para que o filho prove sua masculinidade através da promiscuidade é chocante e preocupante. Além disso, a falta de liberdade para explorar interesses diferentes dos tradicionais papéis de gênero é uma restrição sufocante para o desenvolvimento emocional e social da criança. A utilização de táticas como contratar rameiras disfarçadas de empregadas domésticas é uma forma de manipulação abusiva para controlar a sexualidade do filho. A intolerância e a falta de respeito pela diversidade podem ser prejudiciais para a formação das crianças.

A visão muito negativa e preocupante da criação de um menino em uma cultura machista e homofóbica como foi na minha infância e adolescência e ainda muito presente em muitos países nos dias atuais infelizmente, sim, embora tenhamos avançado em muitos aspectos em relação à tolerância e à diversidade, ainda há muitos lugares no mundo onde a discriminação e o preconceito são comuns e muitas pessoas são privados de seus direitos humanos básicos. É importante continuar lutando contra essas injustiças e trabalhar para criar um mundo mais justo e inclusivo para todos.










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