Gardiões do Santíssimo Graal. O escapulário.
Atualizado: 7 de mai.
Voltei assim no final da tarde para a capital, triste, melancólico, saudosista e arrependido de ter deixado a minha rua, a minha pracinha, os meus amigos, as minhas lembranças. Fiquei ainda mais triste ao lembrar da minha avó e da minha mãe, pois elas viveram ali por muito mais tempo do que eu e devem ter deixado muitas mais recordações. Lembrei-me das zeladoras do Sagrado Coração de Jesus, das quais minha avó fazia parte, e vi o mal que fiz ao tirá-las de sua zona de conforto para satisfazer meu egoísmo.
Os meus sonhos voltaram, um pouco diferentes agora. Parece que o meu avô queria me dizer algo. O sonho sempre terminava comigo nos seus braços, ele vestindo a capa vermelha da irmandade, lendo uma oração e me levando até o quartinho das tranqueiras. Chegando lá, ele tirava o escapulário e me entregava. Eu lia a oração e o quartinho se enchia com todo tipo de bens que eu desejava. Esse sonho se repetia diversas vezes, até que um dia acordei lembrando-me que o meu avô havia me pedido que guardasse aquela pedra oca que dava a sensação de ter algo no seu interior.
Eu fui procurar minha caixa de trecos e a encontrei em uma caixa junto com alguns documentos e objetos pertencentes ao meu avô. Levei-a para meu quarto e, ao abri-la, todas as lembranças vieram à tona. Cada objeto ali guardado me fez recordar de momentos felizes com meu avô. Um livrinho de catecismo, uma lanterna, um pinhão, figurinhas, dados, canivete, medalhas do futsal, um isqueiro, bolinhas de gude, uma caixinha de chumbinho de espingarda de pressão - que meu avô me deu à contragosto de minha mãe - e miniaturas de carrinhos. Cada objeto retirado da caixa me fez suspirar de emoção. Finalmente, encontrei o escapulário e as lágrimas que não chorei no funeral do meu avô vieram à tona, pois aquela peça trazia o cheiro dele. Senti novamente o colo do meu avô e coloquei o escapulário no bolso antes de continuar com a minha rotina.
